segunda-feira, 7 de outubro de 2013
Halloween: Usando o “Dia Das Bruxas” em sua narrativa de RPG
Tags:aventura, dicas de narração, fantasia, fantasia medieval, horror, narração, terror 8
Saudações pagãs, RPGistas! Na data de hoje, 31 de outubro, como vocês bem sabem, comemora-se o Halloween, ou, como ficou popularmente conhecido aqui no Brasil, Dia das Bruxas. Tradicionalmente, em países de cultura anglo-saxônica, as pessoas se fantasiam e festejam, as crianças passam de casa em casa repetindo o jargão “doces ou travessuras” e velas acesas são postas em abóboras ornamentadas. Infelizmente, a mídia, principalmente o cinema holywoodiano, transformou a data em mais um enlatado americano, comercializado mundo afora. No entanto, nem sempre foi assim. O verdadeiro significado do Halloween remete à cultura celta, que vamos conhecer um pouco mais a partir de agora. Logo depois iremos dar algumas dicas de como introduzir elementos do Halloween em seus jogos, medievais ou modernos, de fantasia ou horror.
DO SAMHAIN AO DIA DAS BRUXAS
O Halloween é muito mais do que simplesmente o “Dia das Bruxas”…
O Halloween, como hoje é conhecido, deriva da festividade Samhain, que marcava o início de inverno e o ano novo, comemorado pelos povos celtas da Gália e Grã-Bretanha. Acreditava-se que durante esse período de alguns dias, a mortalha que separava o mundo dos vivos e o dos mortos estava mais tênue, o que possibilitava a aparição de todo tipo de assombrações. Era um momento onde os mortos visitavam suas famílias, em busca de alimento e o calor de uma fogueira. Acreditava-se ainda, que o nevoeiro místico que separava o mundo dos mortais do mundo das fadas se dissipava, fazendo com que as criaturas feéricas pudessem vagar livremente no nosso mundo e que os humanos pudessem vislumbrar o outro lado. Por fim, era um período em que tribos conquistadas pagavam tributos aos seus conquistadores.
: O Halloween é muito mais do que simplesmente o “Dia das Bruxas”…
Situada no fim do outono e início do inverno, a data marca a terceira e última colheita do ano e a passagem da morte sobre o mundo. Para agradar os deuses e os mortos, os celtas realizavam sacrifícios de gado, acendiam grandes fogueiras e honravam seus ancestrais. As provisões eram armazenadas para o inverno, os rebanhos retornavam ao pasto e as leis eram renovadas. Druidas e bruxos consideram essa noite como um momento de intensa magia, especialmente propício para a realização de adivinhações e premonições. Entre as mulheres, era comum a realização de pequenos rituais para obter um marido. As famílias, por outro lado, buscavam a orientação dos deuses para saber se alguém da família iria morrer no próximo ano. A data era vista ainda como um período de reflexão pessoal, em que cada um deveria avaliar seus atos no ano que passara. Devido a essa grande representatividade dos ritos, o Samhain acabou ficando popularmente conhecido pelos cristãos como Dia das Bruxas.
O costume de vestir-se com fantasias tem sua origem na tradição (alguns dizem irlandesa, outros escocesa) de cobrir os rostos com máscaras durante a noite do dia 31 de outubro. Nesta noite, adultos (e não as crianças, como hoje em dia) se mascaravam e partiam em cortejo de casa em casa, entoando cânticos e pedindo oferendas aos mortos, para que estes não os possuíssem. Já o costume – talvez a “marca registrada” do Halloween – de ornamentar uma abóbora e acender uma vela em seu interior remete à lenda de Jack, um homem dotado de grande lábia e maldade, que teria enganado o Diabo. Após sua morte, não podendo entrar no Céu porque era indigno, e também recusado no Inferno por ter trapaceado Satã, foi condenado a vagar eternamente entre o mundo dos vivos e dos mortos. Sua alma passou a ser conhecida como Jack’O Lantern (Jack da Lanterna) e pode ser vista assombrando na noite de Halloween, em busca de oferendas e redenção.
USANDO O HALLOWEEN EM SUA MESA DE JOGO
Temos que concordar que um evento como o Halloween (ou Samhain, se você preferir) tem grande potencial RPGístico. Seja em mundos medievais ou modernos, em narrativas de fantasia ou de horror, os elementos que o momento evoca são muito comuns em nossos jogos e podem facilmente ser usados em qualquer narrativa. Em mesas de jogos com narrativas situadas em nosso próprio mundo, não é se faz necessário grandes mudanças, afinal, trata-se de algo nativo. Jogos como Mundo das Trevas, Vampiro (ou Lobisomem) Idade das Trevas, Arkanun e Trevas podem incluir em uma narrativa o Halloween sem grandes dificuldades – alguns, inclusive, já tratam a prática dentro de seu mundo de jogo. No caso de mesas de jogo com narrativas situadas em mundos fictícios (como em D&D, Dragon Age e Old Dragon), o mestre terá que fazer as adaptações necessárias, observando se no cenário existe alguma divindade ou entidade semelhante aos deuses célticos, conjuradores assemelhados aos conceitos de druida e bruxo, dentre outros elementos. Caso não possua, não há problema nenhum em você, mestre, incluir isso no jogo, afinal, o mundo é seu!
Abaixo, segue algumas idéias de enredos usando o Halloween e seus elementos em cenários medievais:
O espírito vingativo de um criminoso há muito enforcado pela população de uma vila retorna para assombrar seus algozes, pois, após sua morte, descobriu-se que ele era inocente.
Um necromante aproveita a noite em que a mortalha entre o mundo dos vivos e dos mortos está mais frágil e realiza um poderoso ritual para erguer os cadáveres do cemitério local e jogá-los contra a vila natal dos personagens.
Uma importante princesa élfica atravessa a névoa para o mundo dos homens, se perde e procura os personagens para levá-la de volta ao mundo das fadas, em troca de tesouros élficos.
Uma fada trapaceira aproveita-se da noite em que é mais fácil atravessar para o mundo dos homens e sequestra vários bebês, deixando em seu lugar réplicas idênticas, que na verdade são fadas.
Em troca de poder concedido por um poderoso espírito feérico, um jovem e inexperiente bruxo organiza um culto que irá sacrificar toda uma aldeia e oferecer essas almas ao seu senhor, quem na verdade, busca uma maneira de possuir um corpo humano.
Abaixo, segue algumas idéias de enredos usando o Halloween e seus elementos em cenários modernos:
Durante uma festa de Halloween, realizada em uma famosa “casa mal assombrada”, os fantasmas do local se manifestam e misturam-se aos convidados, possuindo alguns e realizando um verdadeiro festim macabro.
Aproveitando-se das comemorações de Halloween, um jovem desajustado e fanático por filmes de terror começa a espalhar uma onda de crimes, reproduzindo suas cenas de morte preferidas.
Após semanas seqüestrando crianças em uma pequena cidade, uma cabala de magos planeja sacrificá-las em um antigo ritual pagão para trazer ao mundo seu mentor espiritual, uma poderosa entidade dos planos inferiores.
O fantasma do fanático padre de uma pequena cidade do interior visita os fiéis mais conservadores de sua antiga congregação e os convence a “purificar” o rebanho, matando todos aqueles que festejam a noite de Halloween.
Uma entidade demoníaca passa a noite de Halloween tentando os personagens a realizarem atos contra a sua moral, alimentando-se da degeneração de cada um deles, para que, ao fim da noite, possa convencê-los a cometer um assassinato a sangue frio, o que possibilitaria ao espírito permanecer no mundo dos vivos.
O verdadeiro Halloween é repleto de simbolismos e significados ocultos.
Bem, amigos, espero que eu tenha contribuído em algo para suas mesas de jogo. Ou, no mínimo, para que você vejam com outros olhos a festa do “Dia das Bruxas”, tendo em mente seu contexto original, remetente a um cultura pré-cristã, demonizada, e em muitos casos, injustiçada pelo fanatismo religioso que marcou a Europa durante a Idade Média. Até mais e não esqueçam de acender uma vela para os seus ancestrais nesta noite!
Dmitri Gadelha
Correndo pra terminar de esculpir minha abóbora e acender minhas velas! viladorpg.wordpress.com/
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